Viagem internacional e idiomas

Algumas pessoas me perguntam, ao quererem ir para a França: mas eu não falo francês, e aí, será que vão me tratar mal?

É, os franceses têm essa fama. Nunca tive esse problema, mas eu falo francês. O que posso dizer é: use o tradutor on line, tente aprender a dizer, pelo menos, obrigada, com licença, por favor. São palavras que, ditas com um sorriso, podem fazer com que a mais ranzinzas das pessoas te ajudem. Talvez não, mas vale tentar.

Os estrangeiros, de um modo geral, gostam muito dos brasileiros. Sempre escuto: "Ah, o Brasil, só o nome já aquece o coração". Brinco dizendo que, pelo calor que faz aqui, deve aquecer muito mesmo. É surpreendente o número de pessoas que já veio ao Brasil e conheceu diversas cidades do nordeste. E Foz do Iguaçú. Quem não veio tem planos de vir, tem algum amigo ou parente que mora por aqui.

Confesso que não tenho muitos problemas no quesito idioma. Não quero parecer esnobe ou metida, mas estudei demais desde jovem para agora, depois de virar idosa pela lei, ser modesta. Além do nosso português (e conheço algumas palavras usadas em Portugal), falo fluentemente francês e inglês. Estudei espanhol e italiano durante dois anos, alemão durante quatro, e russo por três. Não domino esses idiomas. Bem que gostaria mas, à exceção do russo, consigo entender e me fazer entender o suficiente para pedir informações, pagar alguma compra, usar os meios de transporte e, se falarem devagar, até consigo conversar com garçons, motoristas de táxi e idosos.

Ah, os idosos, como gostam de uma conversa. Principalmente as senhoras. Se você quiser praticar algum idioma em viagem, puxe conversa no mercado, na feira, no ônibus, principalmente com as velhinhas. Geralmente elas adoram. Já me deram até receita no ponto de ônibus quando olhei para a cesta de compras de uma senhora e perguntei o que era uma das verduras (era aipo).

Já me perdi de carro em Praga. Época sem GPS, sem celular. Parei num posto de gasolina e perguntei se falavam francês. Nada. Inglês? Nada. Português? Então, em bom português, mostrei o carro lá fora e o endereço do hotel num pedaço de papel. Apontei para o mapa e perguntei onde estávamos. E se eu devia descer ou subir aquela rua para chegar ao endereço escrito. Eles me mostraram no mapa a nossa localização, onde estava o hotel e que eu deveria voltar por aquela rua, ao invés de seguir adiante. Dei um sorriso, agradeci e fui embora. Não é que deu certo? Achei o hotel sem problemas!

Uso muito essa coisa de perguntar se a pessoa fala português e, em muitos casos, me dizem para esperar, saem e voltam com um brasileiro que trabalha no local ou com alguém que fale espanhol.

Tenho um pequeno Guia de conversação para viagens - EUROPA, com frases usuais em 14 idiomas. É, eu disse que sou idosa. A tecnologia ainda não havia invadido nossas vidas e ninguém pensava que um telefone iria nos ajudar em traduções.

Fui para a Polônia e levei meu livrinho. No bar do hotel, comecei a treinar. O garçom achou graça, corrigiu minha pronúncia e, como dizem os franceses, voilà, aprendi a dizer obrigada em polonês: dziękuję.

Em todo lugar que eu ia, as pessoas se esforçavam para falar inglês. Ao sair, eu dava um sorriso e jogava o meu dziękuję. Era um sucesso. E nunca mais esqueci esta palavra.

Em outra viagem, estava em Zagreb, Croácia, com minha irmã. Sentamos para almoçar e o garçom não tinha uma cara muito simpática. Era o ano de 2014 e talvez ele tenha percebido que éramos brasileiras. O Brasil havia ganhado da Croácia na véspera, primeiro jogo da Copa. Minha irmã pediu uma cerveja, pivo, em croata. Até aí tudo bem. Mas ela queria uma marca específica, a Ožujsko, nome que até hoje não conseguimos pronunciar direito. O garçom não entendeu na primeira tentativa. Ela, então, deu uma enrolada na língua, fazendo bico, tentando acertar a pronúncia e virou uma cena muito engraçada. Tanto, que ele a corrigiu e saiu sorrindo para buscar a bebida.

Depois disso, aprendemos que hvala significava obrigada e que bom dia era dobro jutro. Foi ótimo

O mais difícil mesmo foi na Rússia. Eu estudava há apenas um ano quando estive lá. Conhecer o alfabeto ajudou bastante. Em restaurantes era fácil encontrar jovens que falavam inglês. Mas no geral, era bem difícil. E eu me sentia como uma criança que começava a aprender a ler. Conseguia ler tudo, mas não fazia a menor ideia do que estava escrito. E, como sei dizer a saudação formal, usada assim que se chega no hotel, em restaurantes e no comércio - Здравствуйте -, pensavam que eu falava o idioma e começavam a conversar comigo. Rapidamente eu dizia, em russo, que estava estudando e só sabia algumas palavras. Na segunda viagem, no ano seguinte, a Moscou, um pouco mais adiantada nas lições, consegui perguntar onde ficava o banheiro. Me entenderam, responderam e entendi a resposta. Um pipi bem especial. Ha ha ha.

O importante é tentar, não ter vergonha de errar. E não ligar para cara feia. A gente está passeando, é mais fácil relaxar e tentar entender que todo mundo tem problemas. Se uma pessoa não te ajudou, tente a próxima. Se ela foi muito grossa mesmo e ríspida, responda em bom português. Podem não entender o que a gente está dizendo, mas pela entonação vão entender que estamos reclamando.

Se você chegou até aqui, obrigada, merci, thanks, gracias, grazie, danke, hvala, спасибо. E já ia me esquecendo, kiitos (em finlandês, pra mim o mais bonitinho).

Marilucia Chamarelli

Bibliotecária e tradutora de francês aposentada. Amante de viagens.

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